As ruas da Rainha da Borborema são palco de inúmeros artistas locais. Em Campina Grande o Calçadão da Cardoso Vieira, a Praça da Bandeira, o Parque do Povo, a Maciel Pinheiro e tantos outros locais consagrados na cidade manifestam as vozes de cantores e compositores que fazem da rua seu palco. Vestidos de arte, estes artistas nos desconectam os passantes de sua rotina.
Esta habilidade Caio César Fernandes Aquino domina bem. Aos 28 anos, ele é mestre em fazer da rua o palco para os seus acordes. Crescido entre os cantos improvisados da casa de sua avó, o cantor e compositor viveu sua infância cercado pelos discos de vinil de sua família.
A música é inspiração e também herança. Um dos grandes responsáveis por isto é o seu pai, o cantor Vicente Teles, que inspirou Caio César a encontrar nas composições um lugar para chamar de seu: "meu pai tinha uma coleção com centenas de discos, passava o dia todo escutando. A música estava sempre presente em casa".
Os primeiros contatos com o violão
Parceiro de seus dias, o violão é o instrumento que o acompanha desde a infância. O primeiro deles foi presenteado por seu tio Leto quando Caio tinha 11 anos. Logo nas primeiras dedilhadas, Caio César recorreu às cifras de músicas presentes nas revistas que adquiria para aprender a tocar. O garoto tímido tomou dos Beatles aos Tribalistas como suas referências.
“Eu sempre pego o violão pra tocar pelo menos uma ou duas canções, ou passo horas tocando. A música é muito presente na minha vida, como profissão também, mas antes já havia espaço garantido, ali no meu quarto”, conta.
Durante a adolescência, Caio César se apresentou duas vezes com a "Open Bar" a sua primeira banda: "a primeira vez, não conseguia interagir com o público, só cantei e saí do palco, porque estava extremamente tímido. Mas é uma memória boa para mim".
O trabalho autoral
O apreço de Caio César pela música autoral é evidente. Para o artista, compor é a sua terapia, a fonte de força para tempos difíceis e, é claro, o registro de bons sentimentos demarcados por suas lembranças.
O contato diário com a música o inquieta. Caio é habituado em gravar covers de músicas que os sensibiliza. Compor é sua terapia, a fonte de força para momentos difíceis e registro de bons sentimentos oriundos de suas melhores lembranças. Em 2019 ele lançou o single "Eu tô tomando conta de você" e a faixa "Nosso Bolero", no ano seguinte.
Em EP lançado em 2021, Caio dá vida a três faixas de xote, um baião e uma bossa-nova. “Eu já tinha algumas músicas gravadas, muitas pessoas que conheciam meu trabalho ficavam perguntando quando eu ia lançar um CD, então senti a necessidade de mostrar um trabalho maior, tirei as composições da gaveta e lancei o EP”, relata o compositor. O artista também enfatiza que o lançamento de um segundo EP faz parte de seus planos.
Influências e ativismo
Entre as influências, se destacam músicos paraibanos consagrados como Chico César, Zé Ramalho e Jackson do Pandeiro. Já no cenário local ele menciona Felipe Batista (Canário do Império) e seus parceiros Jéssica Melo, Hugo César e Lucas Barreto, que assim como Caio, fazem parte do Coletivo Compor: “a gente sempre comentava que haviam muitos compositores em Campina Grande e essa união seria legal. Desde que o coletivo nasceu, eu participo”.
Junto com outros artistas do Coletivo, Caio representou Campina Grande no IV Festival de Música da Paraíba em 2021 e enfatiza a importância de eventos como este para a visibilidade do trabalho autoral na região: “para mim, é importante participar porque mostra o engajamento que temos. Isso mostra que há uma certa resistência da música autoral, porque não há tanto espaço para o artista apresentar sua arte e o coletivo levanta essa bandeira”.
No palco, em eventos e também nas redes sociais, o cantor e compositor segue apresentando seu trabalho e se sente grato pelo reconhecimento e emoção que consegue despertar. “É muito massa saber que seu trabalho emociona as pessoas! Já vi gente chorar e hoje uma senhora veio me elogiar. Eu gosto muito, é uma sensação de missão cumprida”.
A música e a arte de Caio se estabelecem como símbolos do artista local paraibano que transmite suas vivências através do seu trabalho e cativa o público no soar de um acorde.
____________________
Texto: Eduardo Gomes e Ana Luísa Rocha
Entrevista: Ana Luísa Rocha
Produção: Bruna Araújo
Supervisão Editorial: Ada Guedes
Comments