O ativismo cultural na Paraíba é marcado pela expressiva participação intergeracional de atores sociais, que mobilizam a comunidade local. Fundada em janeiro de 2013, no município de Juazeirinho, a Casa da Cultura Joana Gago é um exemplo disso.
Presidida pelo professor Joseilton Manoel dos Santos, o equipamento cultural foi concebido por uma família de doze irmãos que estimulam formas plurais de expressão artística da comunidade juazeirinhense.
Uma casa, muitas histórias
A história da Casa se mescla com as narrativas culturais do próprio município. A proposta surgiu da fusão do Grupo Artístico Juazeiro e do Grupo Parafolclórico Arreios de Prata, ambos fundados em meados dos anos noventa. Havia uma dupla motivação: preservar a herança cultural da cidade e ao mesmo tempo, buscar alternativas para contornar a escassez de investimentos do setor.
Estes grupos eram articulados pelos netos de Joana Geronina da Conceição, mais conhecida como Joana Gago, Joseilton dos Santos e Rosa Lúcia dos Santos, que logo depois se tornariam respectivamente, presidente e vice-presidenta da instituição. Com esforço coletivo e seleção do acervo material que os grupos dispunham foi possível fundar a então Casa da Cultura Joana Gago.
O gosto de seus fundadores pela cultura é uma marca da mulher que tem seu nome homenageado pela Casa da Cultura. Contadora de histórias, Dona Joana preocupava-se em possibilitar às próximas gerações o acesso à história e às artes de sua terra natal. Rendeira, ela cantarolava cantigas populares para sua família, que se aproximava afetivamente da cultura popular nordestina.
A família fundadora da Casa ficou conhecida na região como: o “pessoal dos Gagos”. O apelido surgiu graças a gagueira de seu marido, Antônio Firmino dos Santos. Joana foi mãe de sete filhos, porém, foi junto com o único sobrevivente Manoel Antônio dos Santos que passaram a ser conhecidos assim. Atualmente, os netos de Joana Gago carregam com leveza o apelido. O que antes estava atribuído unicamente a um distúrbio de fala, hoje é lembrado pelo estímulo à expressividade cultural que marca a comunidade no município.
Mobilização social
A família Gago valoriza o legado de sua avó e deram continuidade aos seus ensinamentos através do teatro, da música, da dança e do ativismo na cidade. O teatro comunitário, no entanto, é um dos grandes protagonistas da Casa de Cultura.
A Companhia Juazeirinhense de Teatro, organizada pelo equipamento cultural, é formatada ao longo dos anos pelos moradores da cidade, já desenvolveu espetáculos como O Pequeno Príncipe e A Paixão de Cristo, este último ganha destaque por sua realização a céu aberto.
Tanto o teatro como a dança são veículos que levam a mensagem às pessoas. Então, quando você vai fazer uma palestra sobre a importância de [questões de] gênero, sobre o povo negro, sobre os direitos da população, as pessoas não se interessam muito. Mas, quando você coloca uma pessoa cantando uma música que tenha uma mensagem, e depois uma dança, as pessoas param para assistir, explicou a vice-presidenta da Casa.
Magno Lisboa, assistente social e integrante da Companhia, relata a importância das ações da Casa da Cultura Joana Gago: ''Participar dessa vertente cultural é estar num espaço de sociabilidade no qual adquirimos novos saberes, ressignificando novas experiências através de práticas educativas não formais que a cultura popular proporciona.''
Na dança, a casa dispõe do projeto Balé Popular Flor do Juazeiro e do grupo de quadrilheiros homônimo ao Balé, que completa quatro anos de existência em 2021. O destaque na música está no desejo em reativar a antiga banda Regional, que trabalha com ações de educação musical de jovens e adultos e também na inclusão de música ao vivo durante outras apresentações e eventos.
Através das atividades realizadas pela Casa da Cultura, a comunidade se destaca como protagonista do cenário cultural da região. A arte e a cultura, desta forma, se estabelecem como elementos vitais na promoção do bem-estar social e no desenvolvimento do trabalho coletivo e colaborativo entre participantes ativos e espectadores.
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Texto: Eduardo Gomes e Bruna Araújo
Produção: Ana Luísa Rocha
Supervisão Editorial: Ada Guedes
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