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Kati Tomati: mulher, mãe e artista

por Victória Custódio

Kati Tomati usando uma de suas peças - Foto: Kati Tomati/Acervo pessoal - Campina Cultural
Kati Tomati usando uma de suas peças - Foto: acervo pessoal/Kati Tomati

Entre cordas, linhas e retalhos nascem peças únicas, originais e valiosas em simbolismo e afeto. Unindo às formas, suas vivências enquanto mãe, mulher e artista, Kati Tomati transpassa seus sentimentos através da produção artesanal. Desde criança, inspirada por seu espírito empreendedor somado aos ensinamentos de sua tia Ilma, Kati começou a produzir manualmente diversos tipos de bijuterias. E Kati Tomati fez de seu nome uma marca, uma parte de si mesma e uma forma de expressão.


Originalmente, o nome da designer surgiu na infância, quando seus colegas da escola a chamavam de “tomate”, o que não a abalou por muito tempo, ao contrário, assim que decidiu profissionalizar seu talento e criar uma marca, sabia que ‘Kati Tomati’ deveria ser, definitivamente, seu nome:




‘‘Eu queria juntar os meus amores, que era arte, artesanato e empreender também. Que pra mim é muito mais do coração. Foi assim que foi surgindo. Os caminhos foram se encontrando e foi assim que a Kati Tomati nasceu.’’

O destino quase a distanciou da arte aos 17 anos de idade. No momento que buscava escolher qual carreira seguir, a jovem se encontrava em dúvida entre as áreas da Engenharia Elétrica e da Computação. Contudo, sua paixão pelo criar levou Kati a cursar Design na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e esse caminho a fez se descobrir cada vez mais como a artista que nasceu para ser.


Com toda a bagagem da universidade, a designer começou a se dedicar ao lançamento de coleções para a sua marca, sempre inspiradas em lugares, elementos e situações cotidianas. Sua primeira coleção foi inspirada em tribos africanas e as seguintes, no mar, na maternidade e na vivência com outras mulheres.

Colar da Coleção Massai - Foto: Marília Cacho - Campina Cultural
Colar da Coleção Massai - Foto: Marília Cacho

Independente das inspirações, através das suas peças a artista sempre busca mostrar os sentimentos que envolveram as fases de sua vida. Um grande exemplo disso foi a criação do brinco de bolinha idealizado por ela durante a maternidade, quando percebeu que os bebês costumavam puxar brincos maiores. Desta forma, Kati começou a criar peças menores para outras mães iguais a ela.


Kati acredita que todas as coisas que faz tem um pouco de suas memórias e as guarda com afeto, assim como um colar de corda de sua primeira coleção, Massai, que ela nunca vendeu por representar o momento em que decidiu o que queria: "fazer arte". Para Kati, uma peça criada através de um sentimento gera ‘‘além do significado da peça em si e o sentimento de quem está usando também’’.

Brinco de bolinha e outras peças produzidas por Kati - Foto: Kati Tomati


Ser mãe, ser mulher e ser profissional

Em 2010, Kati ministrou oficinas para mães sobre geração de renda com materiais recicláveis no Centro de Apoio Psicológico (CAPS), em Campina Grande. Neste percurso ela ensinou a outras mulheres o seu ofício, assim como sua tia Ilma o fez, e o ensinar passou a compor o quadro de metas da artista.

‘‘Ensinar sobre o design, ensinar sobre a produção, ensinar tudo que eu sei pra que a gente possa criar uma rede de mulheres empreendedoras que possam ser capazes de se sustentar e serem autônomas, donas da própria vida’’, completa Kati.
Coleção Turkana - Foto: Marílis Cacho - Campina Cultural
Coleção Turkana - Foto: Marília Cacho

A designer diz que muitas vezes “ser mãe” é visto como uma função exclusiva e que falta apoio na inclusão dessas mulheres no mercado de trabalho. Por esse motivo, ela busca criar uma rede feminina e materna através, primeiramente, das pessoas que trabalham com ela: mulheres, mães, fornecedoras, entregadoras e costureiras.


Uma de suas clientes, Ana Beatriz, conta que acha importante e necessário que as marcas pensem em especificidades para mães, não apenas no quesito da funcionalidade das peças, mas também no envolvimento de outras mães no processo de produção. Ela continua dizendo que isso incentiva muito o empreendedorismo materno e que “mostra o compromisso em dar visibilidade a essas mulheres e em fortalecer uma rede de apoio”.


Kati conta que a maternidade mudou sua forma de trabalhar, de ver e compreender a marca. Ao mesmo tempo, foi na maternidade que ela sentiu o reverberar de sua voz ao falar sobre suas vivências, sobre os desafios do ser mãe, empreendedora e, sobretudo, mulher: ‘‘Não somos só mãe! Podemos ser tantas coisas, além disso’’.


Mais valioso que a Turmalina Paraíba

Desde o começo, a ideia de Kati era trabalhar com materiais diferentes e alternativos, até que isso se tornou uma grande característica de sua marca. Ela passou um ano estudando sobre pedras e lapidação para entender as gemas que podem ser encontradas em território paraibano.


No entanto, acredita que não é necessário explorar gemas nobres como a turmalina e o quartzo rutilado, que, ainda que sejam valiosos, nem sempre geram um bom retorno financeiro à comunidade. Kati mostra em sua produção que há diversos materiais alternativos que, quando bem trabalhados, podem gerar peças sustentáveis e de valor, seja financeiro ou emocional. Pontos esses que foram agregados à marca, como forma de comprovar a possibilidade de produção sob estes termos.

Coleções Femear, Marabrilhoso, e Metropóle - Foto: Marília Cacho


Para Kati "a marca é muito o que eu vivo, então é sobre isso que eu falo: sobre andar com mulheres, valorizar mulheres, valorizar empreendimentos femininos, valorizar o trabalho de outras". Talvez seja isso, junto a todas as memórias, que transformam as peças de Kati Tomati mais valiosas do que ouro, prata e a Turmalina.


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Texto: Victória Custódio

Entrevista e Produção: Julia Nunes

Editor de Especializado: Eduardo Gomes

Editor-Chefe: Rafael Melo

Diretora de Redação: Ada Guedes





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