Campinense, do Bairro Santa Rosa, Luísa Nunes compõe o cenário paraibano do rap, pautando em suas composições os mais diversos temas sociais. No intento de representar a Paraíba e a força da mulher perante as mais diversas formas de violência, é que surge o seu nome artístico, Turmalina. A pedra é encontrada unicamente no estado e é resistente às intempéries naturais. Seguindo os caminhos acadêmicos do pai, a jovem é graduada em História pela Universidade Federal de Campina Grande e atualmente está cursando o mestrado na mesma área.
Cresceu ao som de Caetano Veloso e Chico Buarque, que refletem o gosto musical do pai. Porém, aos oito anos de idade, influenciada pelo irmão mais velho, Luísa teve o primeiro encontro com o rap. Aqueles versos não faziam muito sentido para uma criança, a garotinha era apenas apaixonada pelas batidas do gênero.
Já na adolescência, Luísa começa a compreender as letras e os problemas proclamados entre as batidas. É na escola, criando paródias nas aulas e depois, na universidade, que ela passou a enxergar na música uma forma de denúncia e de empoderamento. Decidida a colaborar com o movimento, compõe sua primeira letra. Rimando suas vivências e as de outras mulheres, "Nós por nós" é baseada em casos de violência que ocorreram na Paraíba e no Rio de Janeiro.
"O MC é um mensageiro. Todo artista é um mensageiro, mas o rap tem essa força de falar com a periferia. De falar com as pessoas que não tiveram, muitas vezes, acesso à educação. O rap evidencia a realidade que a gente vive e isso era algo que eu queria colocar nas minhas letras. É isso que acho mágico no rap, ele abre muitas fronteiras, nossa consciência. Acho que é uma arte que tem muito potencial e muita força."
A universidade e os primeiros passos no rap
Pelos corredores universitários e dos encontros promovidos pela UFCG, Turmalina conhece o Dj Joh, entre outros artistas da cena do rap paraibano. É nesta fase da vida que inicia sua produção musical de forma profissional. Fazendo da formação que a educação lhe possibilitou um meio para lecionar, a professora já se utilizou das rimas para ministrar uma aula sobre pré-história. Comunicando o protagonismo feminino, Luísa já enfrentou a dura realidade do machismo, até mesmo dentro do movimento do rap.
É no campo da educação que ela vê possibilidades de recriar histórias e escrever um novo futuro. Impulsionada pela arte e o desejo do ensinar, encontra na música uma maneira de dialogar com os jovens, costurando uma proximidade de vidas entre os cantos e o ensino. Perpassando seus caminhos artísticos e se encontrando nas artes, atualmente, a paraibana também se declara poetisa e mc. Luísa segue se redescobrindo e alcançando lugares antes ocupados apenas por homens e para homens. Assim, a resistência da pedra turmalina vai se reverberando na cantora.
"No início, passei por algumas situações de conhecer mcs que queriam que eu fosse apenas backing vocal, sabe? Eu nunca me contentei, tanto que nunca fui backing vocal. Nunca gostei de ficar atrás, nas sombras. Eu busco o protagonismo das mulheres na arte, na música e no rap. Infelizmente essa é uma área feita, majoritariamente, por homens e para homens."
Os percalços na vida artística
Ela transita em locais e eventos nos quais é rara a presença de artistas mulheres. Cenários que já tem pouco reconhecimento dos órgãos públicos, os rappers tem apenas os espaços das ruas paras suas apresentações. Ciente da precariedade para a consolidação de uma carreira como rapper, Turmalina se dedica aos estudos e a docência, com a missão de colaborar para a construção de um amanhã mais digno e igualitário. Apesar dos poucos investimentos públicos para o setor cultural, a mc conseguiu subsídio para gravação e lançamento do seu primeiro EP, através da Lei Aldir Blanc.
A campinense utilizou-se do período da pandemia para realizar lives em seu Instagram e criou o quadro TurmaLive, evento sem fins lucrativos, com o intuito de dar visibilidade a outros colegas do ramo musical. Essa e outras ações de Turmalina só evidenciam sua força que não apenas resiste, mas que cresce diante de qualquer obstáculo.
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Texto: Felipe Bezerra
Entrevista: Felipe Bezerra
Produção: Eduardo Gomes e Felipe Bezerra
Supervisão Editorial: Ada Guedes
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